Frei Ubaldo Civitella Di Trento

Frei Ubaldo Civitella Di Trento chegou ao Brasil em 1847. Veio da região do Abruzos, na Itália, para trabalhar na catequese dos índios no Espírito Santo. Iniciou seu trabalho como missionário na capital da província. Depois foi para a então Freguesia de Viana, hoje município da Grande Vitória.

Somente depois de retornar à capital da província, por motivo de doença, é que foi para Vila de Cariacica e em 1849 deu início à construção da igreja matriz de São João Batista, padroeiro do município até hoje. Nesta época o escravo negro era usado somente na produção agrícola. No Espírito Santo eles estavam distribuídos da Vila São Mateus (norte) à Vila de Itapemirim (Sul). Viviam como a população escrava brasileira, em condições onde fugas, aquilombamentos e revoltas eram constantes. Frei Ubaldo tinha conhecimento da situação nacional desde a sua chegada à capital da província.

No Estado, frei Ubaldo encontrou outro italiano, frei Gregório José Maria de Bene, responsável pela construção da igreja de Queimados, na Serra. Juntos, em suas pregações, para garantirem a fácil exploração do trabalho dos escravos, que durante a semana já eram esfolados pelos seus senhores, começaram a prometer a libertação dos escravos se trabalhassem na construção de suas igrejas. Em suas falsas pregações, exaltavam a liberdade existente na Europa e diziam que os escravos seriam libertados, assim que concluissem os trabalhos de construção. Nos domingos e feriados lá estavam os cativos no duro trabalho da construção.

As pregações dos missionários italianos tiveram como resultado a insurreição de Queimados quando, por fim, os escravos da Serra descobriram, no momento da inauguração da Igreja, que haviam sido enganados pelo frei Gregório de Bene. Tão vil era o frei Gregório que afirmou na época que a liberdade de que falara não era na terra, mas sim a liberdade no reino dos céus.

Enquanto isso em Cariacica os habitantes não mediam esforços para ajudar frei Ubaldo na construção da igreja que mais tarde se tornaria marco de formação do futuro município. Os fiéis faziam procissões nas quais carregavam pedras para edificação. O número de escravos era inferior a Queimados. Mas eles acreditavam também na liberdade prometida.

Quando chegou o dia da liberdade na Serra, frei Gregório fez uma declaração que causou revolta. Disse que a liberdade prometida era a de Deus, não a alforria, porque só aos senhores cabia a permanência dos escravos nos cativeiros. Da frustração para as armas foi um pulo. Não demorou a conspiração fez-se sentir e a agitação dos ânimos tomou-se o prelúdio da insurreição. Armados eles foram às fazendas exigir aos senhores suas cartas de alforria.

Mas na capital da província o presidente, na época o desembargador Antônio Joaquim da Siqueira, era informado da situação e mandou tropas para Queimados, Cariacica e Itaoca. A rebelião durou dois dias. Muitos escravos foram presos, outros mortos. Frei Gregório foi preso com os escravos. Após chegar à capital a noticia de que a ordem havia sido restabelecida, o presidente da província mandou apurar os fatos e os dois frades foram envolvidos.

A igreja de Cariacica não havia sido concluída quando chegou ordem expressa do presidente da província para que frei Ubaldo fosse levado à corte. Os dois frades foram responsabilizados pela revolta dos escravos e considerados nocivos à tranqüilidade pública. Somente em 1851 é que a igreja de Cariacica foi concluída. Um ano antes frei Ubaldo cai doente e morre de febre amarela no dia 16 de junho de 1850.

É notório na civilização brasileira a influência de um templo religioso. Onde fosse construído, num tempo relativamente curto, vasta população se estabeleciaem derredor. Ahistória nos atesta e os fatos confirmam esta realidade.

Grande período da história de Cariacica se perde no vácuo das cogitações lendárias e nas atividades puramente coloniais, esgotando os recursos naturais de mais fácil obtenção, sem qualquer traço nítido que chamasse o interesse dos colonizadores. Somente depois que teve população realmente estabelecida, pôde melhor salientar, já então no Primeiro Império, quando produzindo a cana, o algodão, o milho e outros produtos cultivados pelos escravos, representando em mais alto grau, como em toda a sua existência, fatores preponderantes da economia provinciana, aliada a uma ampla criação de gado bovino. A agricultura foi o seu campo de atividade inicial. Hoje, entretanto, diversas fábricas, para diversos fins, estão localizadas em vários pontos do município.

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